Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
O pomalidomida, um medicamento utilizado no tratamento do câncer de medula óssea, pode ser reutilizado com segurança para tratar uma rara doença genética do sangue, de acordo com um recente ensaio clínico.
O ensaio clínico, liderado pela Cleveland Clinic, foi interrompido mais cedo após demonstrar segurança e eficácia no tratamento da telangiectasia hemorrágica hereditária (THH), uma condição atualmente sem cura.
O dr. Keith McCrae, professor de medicina molecular na Cleveland Clinic e responsável pelo ensaio, disse ao Epoch Times que foi motivado a encontrar um medicamento para um paciente específico que tratou há 15 anos.
“Esse paciente estava extremamente doente… precisava de produtos sanguíneos que custavam dezenas de milhares de dólares toda semana e foi essencialmente aconselhado a realizar uma ressecção da maior parte do intestino, pois estava sangrando muito naquela região”, explicou McCrae.
McCrae aprofundou-se nas pesquisas e descobriu que o medicamento contra o câncer talidomida ajudava pacientes com sintomas semelhantes.
“Tratei-o com talidomida e, em duas ou três semanas, o sangramento praticamente parou”, disse.
No entanto, a talidomida pode causar efeitos colaterais graves. Em vez de realizar pesquisas em larga escala com talidomida, McCrae usou outro medicamento contra o câncer, com estrutura química semelhante, chamado pomalidomida.
Um estudo, publicado no New England Journal of Medicine, designou adultos com THH em uma proporção de 2:1 para receber pomalidomida ou placebo por 24 semanas. O ensaio clínico estava planejado para durar quatro anos, mas foi interrompido após 24 semanas, quando uma segunda análise mostrou que a pomalidomida havia atingido o limite de eficácia.
Uma doença frequentemente esquecida
Como muitas doenças genéticas, a THH é frequentemente subdiagnosticada. A doença afeta cerca de 1 em cada 5.000 pessoas e é a segunda doença sanguínea hereditária mais comum.
Também conhecida como síndrome de Osler-Weber-Rendu, a THH faz com que os vasos sanguíneos fiquem anormalmente torcidos e emaranhados. As anormalidades dos vasos sanguíneos aparecem como manchas vermelhas e roxas no rosto, ao redor dos lábios, no interior da boca e nas cavidades nasais. Eles ficam muitas vezes frágil e estouram, levando a sangramento recorrente aleatório, tornando o sangramento nasal um sinal característico da doença.
A THH também pode causar malformações arteriovenosas (MAVs), que são conexões emaranhadas de vasos sanguíneos no cérebro, pulmões e fígado, que podem romper inesperadamente – levando a complicações potencialmente fatais, como acidente vascular cerebral e sangramento pulmonar. Pessoas com THH podem ter uma vida útil mais curta do que a população em geral.
“Olho para trás e vejo que, durante a infância, eu já apresentava muitos dos sinais e sintomas de THH. Tinha sangramentos nasais frequentes, uma grande MAV (malformação arteriovenosa) no pulmão, o que dificultava acompanhar meus colegas durante os treinos de cross-country, e tinha níveis baixos de ferro”, contou ao Epoch Times.
Ela herdou a THH de seu pai.
Francesca, uma italiana de 26 anos, está aguardando o diagnóstico de THH, que deve sair em um mês.
“Tenho sangramentos nasais frequentes desde criança, até à noite. Há semanas em que meu nariz sangra todos os dias. Minha mãe também tem esse problema”, compartilhou ao Epoch Times. No entanto, como muitas outras pessoas com THH, os sangramentos nasais eram apenas a ponta do iceberg.
Em outubro de 2021, após uma ida ao pronto-socorro por causa de uma enxaqueca com aura, os médicos realizaram vários exames ao perceberem que seus pulmões apresentavam um “som diferente”. Descobriram então formações de vasos sanguíneos embolados nos pulmões, que estavam causando baixa oxigenação no sangue.
O principal sintoma de Francesca era fadiga após esforço físico. “Eu não conseguia subir um lance de escadas sem ficar sem fôlego. Correr estava fora de questão. Caminhar ladeira acima era muito cansativo para mim”, relatou. Em fevereiro, ela passou por uma embolização próxima demais às duas maiores embolizações arteriais (MAVs).
Antes disso, Francesca não tinha ideia sobre a THH. “Foi um dos cirurgiões que fez minha embolização quem sugeriu que eu poderia ter a doença”, afirmou. “Saber que eu estava me cansando facilmente por causa das MAVs e não por preguiça foi libertador… por outro lado, é assustador saber que MAVs podem aparecer no meu cérebro ou em qualquer outro lugar”.
Embora Francesca ainda não tenha sido diagnosticada formalmente, seu geneticista afirmou que a THH é muito provável, dado o conjunto de sintomas.
O filho de Hein, Anthony, tinha MAVs no cérebro, o que causava um fluxo sanguíneo anormal.
Como resultado, por muitos anos, o tempo livre remunerado de Hein foi dedicado a levar Anthony a consultas médicas e preparar-se para cirurgias, o que prejudicou sua vida social e sua saúde mental, contou ela. Atualmente, Anthony está indo muito bem na faculdade, e Hein conseguiu focar em melhorar seu estilo de vida com exercícios, alimentação saudável e aumento das interações sociais, o que a ajuda a controlar o estresse no trabalho e manter sua doença sob controle.
Olhando para o futuro, Hein espera que um medicamento oral possa reduzir as MAVs.
Pomalidomida como tratamento de longo prazo
A pomalidomida, administrada via oral, pode ser a realização da esperança de Hein.
O manejo da THH concentra-se em prevenir sangramentos nasais com o uso de anticoagulantes e abordagens mais agressivas, como a ablação de vasos anormais ou o fechamento cirúrgico das narinas. Casos graves podem exigir transfusões regulares de ferro ou sangue para tratar a anemia.
Os participantes que tomaram 4 miligramas (mg) diários de pomalidomida no ensaio clínico apresentaram uma redução sustentada na gravidade dos sangramentos nasais, melhora nos níveis de glóbulos vermelhos e hemoglobina, além de uma melhor qualidade de vida.
Os pesquisadores especulam que a pomalidomida funciona interrompendo o crescimento de vasos sanguíneos anormais. “Acreditamos que este medicamento induz mudanças nos próprios vasos sanguíneos”, disse McCrae. No entanto, ele acrescentou que são necessários estudos em tecido para comprovar isso.
Outras terapias que funcionam de maneira semelhante à pomalidomida incluem o bevacizumabe, um medicamento contra o câncer. Este medicamento tem como alvo o VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), uma proteína que promove a formação de vasos sanguíneos. No entanto, os pesquisadores afirmam que a pomalidomida pode ser mais conveniente, já que pode ser tomada por via oral.
A pomalidomida manteve sua eficácia mesmo em doses mais baixas de 2 e 3 mg, o que pode reduzir os efeitos colaterais.
Embora os pesquisadores não tenham acompanhado os participantes após o fim do estudo, McCrae afirmou que alguns pacientes permaneceram em remissão por três a quatro meses após interromper o uso do medicamento.
Contudo, a dosagem usada no estudo pode ter sido alta demais, com os pesquisadores especulando que a dose diária de 4 mg pode ter suprimido a medula óssea, limitando a produção de hemoglobina. “Estou tratando alguns pacientes fora do estudo agora com doses mais baixas, e seus níveis de hemoglobina estão bastante normais”, disse McCrae.
Ele espera identificar a dosagem correta para o tratamento a longo prazo.
Efeitos colaterais leves foram observados, como baixa contagem de glóbulos brancos, que foi reversível com a redução ou descontinuação da dose. Outros efeitos incluíram constipação e erupções cutâneas.
Eventos adversos graves e potencialmente fatais foram raros, mas mais comuns no grupo da pomalidomida.
Cerca de um quarto dos participantes que tomaram pomalidomida desistiram durante o ensaio, com 16% abandonando devido a eventos adversos, enquanto 10% do grupo placebo desistiram por outros motivos. Também foram relatados casos de neuropatia e deficiência de plaquetas.
Para alguns pacientes, os efeitos do medicamento mudaram suas vidas. Um paciente não conseguia correr ou fazer viagens para a Flórida e mergulhar com seus filhos porque seu nariz sangrava, “mas agora ele pode fazer isso”, disse McCrae.
McCrae espera que o medicamento se torne mais acessível na prática clínica. “Atualmente, há muitas coisas que acreditamos poder ajudar os pacientes, mas que não podemos utilizar devido à dificuldade de obter cobertura pelos planos de saúde. E esses medicamentos não são baratos”.
Ele acrescentou que a publicação do estudo fornecerá evidências rigorosas de sua eficácia, o que ele espera que “facilite a aprovação pelos seguros de saúde para aqueles médicos e pacientes que desejam tentar, pois não existem medicamentos aprovados pela FDA para essa doença”.