VNS Matrix
VNS Matrix é um coletivo artístico fundado em Adelaide, na Austrália, em 1991 por quatro mulheres: Josephine Starrs, Julianne Pierce, Francesca da Rimini e Virginia Barratt. O grupo é conhecido por ter cunhado o termo ciberfeminismo, adotado na mesma época pela Academia por autoras como Sadie Plant. Sua obra de lançamento o A Cyberfeminist Manifesto for the 21st Century (Um Manifesto Ciberfeminista Para o Século 21), título em homenagem a filósofa Donna Haraway, foi amplamente difundido. VNS Matrix encerrou atividades em 1997, mas ocasionalmente ainda reúne as integrantes para projetos e apresentações selecionados. Seu último trabalho foi o manifesto de despedida, Bitch Mutant Manifesto (Manifesto Vadia Mutante).[1][2]
O trabalho do coletivo tinha como foco uma provocação que relacionava a presença crítica delas enquanto coletivo feminista na internet com a ideia de um vírus no sistema computacional, já em uma alusão à noção de matriz e da resistência contra ela. Através de textos, artes visuais explícitas e jogos de computador, instalações, eventos, revistas e cartazes digitais elas exploraram conceitos que traçaravam uma relação sexualizada e socialmente provocativa entre mulheres e tecnologia, questionando de forma subversiva os discursos de dominação e controle no ciberespaço em expansão.[3][4]
História
[editar | editar código-fonte]Contexto
[editar | editar código-fonte]As fundadoras do grupo viviam em Adelaide e todas estavam de alguma maneira envolvidas com a produção artística. Virginia Barratt trabalhava como executiva da Australian Network for Art and Technology, uma posição que Francesca da Rimini tinha acabado de deixar para se dedicar a outras obras e projetos. Julianne e Josie estudavam e faziam arte e performance. Naquela época os computadores não eram pessoais e não era qualquer pessoa que tinha acesso a eles, mas Francesca esteve envolvida em um projeto da Rede Australiana de Arte e Tecnologia para conectar artistas com máquinas, facilitando o acesso deles a instituições e seus recursos, especificamente a computadores e software. Isso porque o governo australiano tinha o objetivo de conectar arte e ciência, mas mesmo assim as máquinas estavam a serviço de instituições dominadas pela presença masculina e o acesso das mulheres era geralmente mediado por um "técnico" masculino e a produção artística dessas iniciativas governamentais também eram voltadas para uma ideia de "produção" em termos capitalistas, sem muito espaço para uma criação artística sem fins comerciais.[5]
No início dos anos 1990, o capitalismo informacional ainda não tinha criado raízes. A Internet era muito menos regulamentada, muito menos mercantilizada. Segundo Virginia Barratt, "O cenário tecnológico era acrítico e predominantemente dominado por homens. Era um espaço masculinista, codificado como tal, e os guardiões do código (cultural e logos) mantinham o controle das produções de tecnologia.". Foi nesse ambiente que o VNS Matrix foi gerado.[5]
Nome
[editar | editar código-fonte]O nome VNS Matrix tem em suas origens na mitologia romana (VNS = Vênus) e a palavra latina Matri (Matriz). Vênus é a deusa do amor e das coisas sexuais, e a palavra Matrix se refere ao lugar em que uma coisa se desenvolve ou é gestada, como um útero. Ao mesmo tempo, rm termos de funcionamento tecnológico, a palavra Matrix tem alta conotações matemáticas (ver: matriz matemática) e científicas sólidas associadas a ela - como por exemplo, na utilização da palavra nos livros de William Gibson para descrever um lugar virtualmente real, no qual números e códigos rolam para formar eventos e efeitos perceptuais reais. Além disso, a palavra matriz também remete aos jogos de Arcade. A VNS Matrix se apropriou da palavra para indicar um novo estado de funcionamento tecnológico que busca reverter os padrões definidos em grande parte masculinos que a palavra Matrix indica emparelhando-a com uma palavra como Vênus, associada ao feminino.[6]
Obras
[editar | editar código-fonte]Quando elas escreveram o Manifesto Ciberfeminista para o Século 21 (1991), a obra foi apresentada como um outdoor de 18 pés de comprimento, que foi exibido em várias galerias por toda a Austrália. O texto surge de uma esfera 3D, cercado por imagens de material de DNA e danças, mulheres fotomontadas que foram transformadas em híbridos em escala. “Fazemos arte com nossas bocetas”, diz o manifesto. “Nós somos o vírus da desordem do novo mundo.”[7]
Em 1992 elas lançaram o projeto ALL NEW GEN que brincava com a ideia de romper com o universo masculinizado dos videogames criando um jogo de computador centrado numa identidade feminina não binária. Originalmente o projeto se chamava de ‘Game Girl’ (uma reprodução direta de ‘Game Boy’). Sua primeira iteração foi uma série de caixas de luz e obras de som, apresentando os personagens e cenários de um hipotético jogo de computador. Na sequência, em 1993, elas lançaram o CD-ROM ALL NEW GEN interativo onde "uma super-heroína onipresente colabora com sua banda de DNA Sluts para derrubar o Big Daddy Mainframe." O CD-ROM foi exibido como uma obra de arte independente e também como peça central da instalação e foi exibido na Austrália e internacionalmente.[8]
Todas as obras:
- 2016: A Tender Hex for the Anthropocene
- 2016: Runway Magazine Section Editorial
- 2014: Remix w/ Soda_Jerk
- 1997: Bad Code
- 1996: Big New Sites: Virtual Theme Parks
- 1996: Bitch Mutant Manifesto
- 1995: Corpusfantastica MOO
- 1994: E Sensual Fragments
- 1994: Infiltrate
- 1992: ALL NEW GEN
- 1992: Billboard Project
- 1991:The Cyberfeminist Manifesto for the 21st Century
Referências
- ↑ «VNS Matrix - Monoskop». monoskop.org (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ «WEB WORK: A HISTORY OF INTERNET ART». www.artforum.com (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ «A Cyberfeminist Manifesto for the 21st Century | transmediale». archive.transmediale.de. Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ «VNS Matrix | transmediale». archive.transmediale.de. Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ a b «An Oral History of the First Cyberfeminists». www.vice.com (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ «Switch - Attack of the CyberFeminists». web.archive.org. 2 de novembro de 2002. Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ Scott, Izabella (13 de outubro de 2016). «How the Cyberfeminists Worked to Liberate Women through the Internet». Artsy (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2021
- ↑ «ALL NEW GEN ⁄ VNS Matrix». VNS Matrix (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2021