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Teriaga

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Teriaga ou triaga é um antigo antídoto capaz de reverter qualquer envenenamento.[1] Continha uma série de ingredientes.[2]

Mais tarde, no período colonial, vemo-lo ser feito pelos jesuítas da Bahia sob a designação de Triaga Brasílica[3].

A teriaga, segundo crenças populares antigas, seria um medicamento complexo, com sessenta e quatro componentes. Acreditava-se que tinha as propriedades de um antídoto para venenos.

A sua origem data do primeiro século antes de Cristo e inspira-se na receita secreta de Mitrídates VI Eupátor, o soberano do Reino do Ponto, situado no litoral nordeste da Turquia actual. Quando os romanos tomaram a região, apoderaram-se da fórmula deste composto, a que se chamava midriático.

Foi o médico romano Andrómaco que acrescentou à mistura mais de uma dezena de componentes vegetais; mas a inovação mais importante foi a introdução da carne de cobra, que se acreditava ser imune aos venenos. Pretendia-se pois, transferir para a mistura essa propriedade, ou esse espírito da carne de cobra.

Com algumas outras modificações menores, introduzidas por Galeno, já no século II depois de Cristo, ela passa a ter sessenta e quatro componentes e toma o nome de teriaga. Dela faziam parte as plantas medicinais antigas, entre as quais figuram especiarias como a pimenta, o gengibre, a canela e o açafrão [4].

Um dos constituintes mais importantes era o ópio. Tratando-se de um alcalóide, uma substância com potente acção farmacológica, mesmo em doses baixas, presume-se que os seus efeitos eram os mais pronunciados. Embora os componentes activos do ópio, como a morfina, não sejam bem absovidos por via oral, tinham um efeito analgésico, benéfico em mordeduras de cobras e alguns tipos de envenenamento.

Tratando-se de um medicamento exótico, muito análogo às antigas poções mágicas, ele adquire grande popularidade e as suas indicações terapêuticas alargam-se para todas as doenças em que se considerava haver alguma forma de envenenamento. Era o caso das doenças infecciosas, síndromes febris, alterações da visão, tonturas, vertigens e ainda outros males. Em particular, teve grande aplicação na peste, sendo enorme a procura nos períodos das grandes epidemias, com grande mortandade e de consequências devastadoras[5].

O grande número de componentes, a raridade de alguns, e o elevado preço, tornavam difícil o acesso a este medicamento, no qual se depositavam as maiores esperanças. Passou a produzir-se um outro, com menos componentes: bagas de louro, mirra, genciana, aristolóquia e mel. Era a teriaga dos pobres. Menos contempladas ainda eram as pessoas que viviam em locais mais afastados dos centros urbanos. À falta de um composto, usavam apenas o alho para combater a peste e outras doenças. E o alho ficou conhecido, em muitas regiões, como a teriaga dos camponeses[6]. A teriaga continuou a ser aceite e usada de forma generalizada até ao final do século XVIII, mas ainda no século seguinte estava incluída nas Farmacopéias de alguns países da Europa.

Na confecção da teriaga, a carne de cobra era fervida durante muitas horas ou mesmo calcinada, até se transformar em pó[7]. Estes pós de cobra eram conservados em frascos para utilização futura. Foram usados em outras preparações, para aplicação local. Eram misturados com gordura, sob a forma de unguento. O nome popular desta espécie de pomada era a banha da cobra. Os pós de cobra foram muito divulgados, e durante alguns séculos tiveram o favor público. Finalmente, foi também a sabedoria popular que os transformou no paradigma da ineficácia e do desengano.

Referências

  1. http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=1897&Itemid=96
  2. «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 26 de maio de 2019. Arquivado do original (PDF) em 6 de março de 2016 
  3. Mezinhas antigas e modernas: A invenção da Triaga Brasilica pelos jesuitas do Colégio da Bahia no periodo colonial, por Bruno Martins Boto Leite.
  4. Coelho MR, Pharmacopea Tubalense(1760)Roma: Oficina de Balio Geredini, p 580
  5. Watson G, Theriac and Mithridaticum - A Study in Therapeutics(1966), London: The Wellcome Hsistorical Medical Library, p 100
  6. Didot PF, Dictionnaire Raisonné-Universel de Martière Médicale, Librairie de la Faculté de Médicine, Paris, Tome I, p 213-5
  7. Lemery N, Pharmacopée UniverselleEd. CJB Bauche, Paris, 1754, p 129
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