Fatema Mernissi
Fatema Mernissi | |
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Nascimento | 1940 Fez, Marrocos |
Morte | 30 de novembro de 2015 (75 anos) Rabat |
Nacionalidade | marroquina |
Cidadania | Marrocos |
Alma mater | |
Ocupação | socióloga, feminista |
Distinções | Prémio Princesa das Astúrias 2003 |
Empregador(a) | Mohammed V University |
Religião | Islamismo |
Fatema Mernissi ou Fátima Mernissi (Fez, 1940 – Rabat, 30 de novembro de 2015) foi uma socióloga e feminista marroquina.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Fatema Mernissi nasceu em Fez, Marrocos[1][2]. Ela cresceu no harém de sua avó paterna, juntamente com várias mulheres. Ela recebeu sua educação primária em uma escola estabelecida pelo movimento nacionalista e educação de nível secundário em uma escola de mulheres financiada pelo protetorado francês. Em 1957, estudou Ciência Política em Sorbonne e na Universidade Brandeis (EUA), obtendo o título de doutorado.[3] Regressou para trabalhar na Universidade Mohammed V, em Rabat, [4] e ensinou na Faculdade das Letras entre 1974 e 1981 sobre temas como metodologia, sociologia familiar e psicossocial. Tornou-se conhecida internacionalmente principalmente como feminista islâmica. [5][6]
Como feminista islâmica, Mernissi estava em grande parte preocupada com o Islã e os papéis das mulheres nela, analisando o desenvolvimento histórico do pensamento islâmico e as suas tendências atuais. Através de uma investigação detalhada sobre a natureza da sucessão de Maomé, ela lançou dúvidas sobre a validade de alguns hadices e, portanto, a subordinação das mulheres que ela vê no Islã, mas não no Corão. Na sua opinião, o ideal muçulmano da "mulher silenciosa, passiva e obediente" não tem nada a ver com a autêntica mensagem do Islã. Pelo contrário, é uma construção dos ulemás, os juristas-teólogos masculinos que manipularam e distorceram os textos religiosos para preservar o sistema patriarcal.
Conforme Isabelle Christine Somma de Castro, Fatema Mernissi desenvolveu, principalmente, duas dimensões:
Na primeira delas, questionou o discurso dominante, na medida em que se insurgiu contra a diferenciação entre os sexos proposta na legislação islâmica, subvertendo a interpretação tradicional dada a ela. Ainda que a religião conceda privilégios aos homens, argumentou, não há indicações inquestionáveis nos textos religiosos que justifiquem uma posição de subordinação às mulheres. A segunda dimensão empregada pela socióloga foi dar voz a quem ela se propôs a estudar. Por meio do trabalho de campo e de sua própria experiência como mulher muçulmana, esmiuçou costumes e atitudes de suas conterrâneas, sempre questionando premissas tradicionais com o objetivo de demonstrar que a igualdade não é apenas uma necessidade social, mas uma demanda da religião que se instalou na região há cerca de 14 séculos.[1]
Carreira e Legado
[editar | editar código-fonte]Ela escreveu extensivamente sobre a vida dentro dos haréns, sobre as relações de gênero e das esferas pública e privada no Islã. Como socióloga, Mernissi realizou principalmente trabalhos de campo em Marrocos. Em várias ocasiões no final da década de 1970 e no início dos anos 80, ela realizou entrevistas para mapear as atitudes predominantes para as mulheres e o trabalho. Ela fez pesquisas sociológicas para a UNESCO e a OIT, bem como para as autoridades marroquinas. No mesmo período, Mernissi contribuiu com artigos para periódicos e outras publicações sobre mulheres em Marrocos e as mulheres e o islamismo de uma perspectiva contemporânea e histórica. Seu trabalho foi citado como uma inspiração por outras feministas muçulmanas, como aqueles que fundaram Musawah.[7][8]
Prêmios e distinções selecionados
[editar | editar código-fonte]Em 2003, Mernissi recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias juntamente com Susan Sontag[9]. Elas competiram entre 42 candidaturas apresentadas, entre elas as do escritor peruano Alfredo Bryce Echenique e do egípcio Nagib Mahfuz[9].
Em 2004, recebeu o Prêmio Erasmus, ao lado de Sadik Al-Asm e Abdolkarim Soroush.[10]
Em 2017, Asma Lamrabet, médica e feminista marroquina, fundou a cadeira Fatéma Mernissi na Universidade Mohammed V em Rabat.[11]
Falecimento
[editar | editar código-fonte]Em 2015, veio a falecer em Rabat, Marrocos.[2][12][1]
Obras
[editar | editar código-fonte]- 1975: Beyond the Veil: Male-Female Dynamics in Modern Muslim Society (reeditado em 1987)
- 1983: Le Maroc raconté par ses femmes
- 1984: L'amour dans les pays musulmans
- 1985: Femmes du Gharb
- 1985ː Sexe, Idéologie, Islam, Éditions Maghrébines
- 1987: Le harem politique : le Prophète et les femmes, Albin Michel, 1987
- 1988: Shahrazad n'est pas marocaine (reeditado em 1992)
- 1990: Sultanes oubliées : femmes chefs d'État en Islam, Albin Michel / Éditions Le Fennec
- 1991ː Le monde n'est pas un harem, Albin Michel, 1991
- 1992: La Peur-Modernité : conflit islam démocratie, Albin Michel / Éditions Le Fennec
- 1993: Women's Rebellion and Islamic Memory
- 1994: Dreams of Trespass. Tales of a Harem Girlhood
- 1997: Les Aït-Débrouille
- 19973:The forgotten queens of Islam
- 1998: Etes-vous vacciné contre le Harem? Texte-Test pour les messieurs qui adorent les dames, Éditions Le Fennec
- 2001: Scheherazade Goes West
- 2004ː Les Sindbads marocains, Voyage dans le Maroc civique, Éditions Marsam, Rabat, 2004
Obras publicadas em Portugal
[editar | editar código-fonte]- O Harém e o Ocidente
- Sonhos Proibidos - Memórias de um Harém em Fez
- Nasci num Harém
Obras publicadas no Brasil
[editar | editar código-fonte]- 1996: Sonhos de transgressão
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c Castro, Isabelle Christine Somma de. FATEMA MERNISSI: UMA CONTESTADORA DO PATRIARCALISMO NO MUNDO ÁRABE-ISLÂMICO. In: NASCIMENTO, Washington Santos; CARVALHO FILHO, Silvio de Almeida (Org.). Intelectuais das Áfricas. 1. ed. eBook Kindle, 2020.
- ↑ a b «Fatema Mernissi | Moroccan sociologist and writer». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 24 de outubro de 2020
- ↑ «Featured Alumni». Brandeis University. Consultado em 3 de Dezembro de 2017
- ↑ Mernissi, F. (2004) ‘The Satellite, the Prince, and Scheherazade: The Rise of Women as Communicators in Digital Islam,’ Transnational Broadcasting Studies 12. Recuperado: http://web.archive.org/web/20191119190723/http://www.mafhoum.com/press7/199T45.htm
- ↑ Devi, Gayatri (18 de Dezembro de 2015). «Fatima Mernissi obituary». The Guardian
- ↑ «Fatima Mernissi». Oxford Islamic Studies. Consultado em 3 de Dezembro de 2017
- ↑ Queirós, Luís Miguel (30 de Novembro de 2015). «Morreu a feminista marroquina Fatema Mernissi». Público
- ↑ Musawah Vision. Issue 20: March 2016. Special Issue: Honouring A Fierce Feminist Foremother. Available: http://arabic.musawah.org/sites/default/files/MusawahVision20EN.pdf
- ↑ a b «Folha Online - Ilustrada - Mernissi e Sontag ganham prêmio Príncipe de Astúrias de Letras - 07/05/2003». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 24 de outubro de 2020
- ↑ «Prêmio Erasmus - pt.LinkFang.org». pt.linkfang.org. Consultado em 24 de outubro de 2020
- ↑ «Musawah WEBINAR: A Feminist Quest for Qur'anic Justice, Beauty and Spiritual Care». Musawah (em inglês). 24 de abril de 2020. Consultado em 24 de outubro de 2020
- ↑ Fox, Margalit (9 de dezembro de 2015). «Fatema Mernissi, a Founder of Islamic Feminism, Dies at 75 (Published 2015)». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 24 de outubro de 2020