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O Clarim da Alvorada

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Capa da primeira edição

O Clarim da Alvorada foi um dos mais importantes jornais da história da imprensa negra brasileira.

Foi idealizado pelo ativista negro Jayme de Aguiar, que associou-se a José Correia Leite para organizar sua fundação e funcionamento.[1] O primeiro número circulou em São Paulo em 6 de janeiro de 1924. Inicialmente intitulava-se apenas O Clarim. Em maio do mesmo ano já aparecia com o nome O Clarim d'Alvorada, e em 1925 a grafia surge em sua forma moderna. Sua orientação inicial era de um jornal de variedades, pretendendo ser um "órgão literário, científico e humorístico", como foi subtitulado até 1927, quando seu subtítulo muda para "órgão literário, noticioso e humorístico".[2][3]

Embora nesta fase já trouxesse algum material de autores negros ou de temática negra, sua ideologia ainda tendia a responsabilizar o negro pela sua situação de inferioridade e atraso, pregando como solução para isso o "levantamento moral" da comunidade e a adoção dos valores burgueses dominantes.[1] Buscava inserir o negro na sociedade brasileira sem questionar a estrutura desta sociedade, a partir do exemplo de relativo sucesso social e econômico de alguns negros, assimilando inclusive, segundo Flávio Ribeiro Francisco, "uma ideologia de controle social que racializava os trabalhadores, criando a representação dos negros como indisciplinados e pouco afeitos a uma ética do trabalho".[4]

Contudo, em 1928 ocorreu uma decisiva mudança nos seus propósitos e em sua ideologia, período em que passa a ser dirigido por Correia Leite, tornando-se um periódico politizado e combativo devotado a um debate crítico profundo das questões do negro, como se observa nas mudanças subsequentes da subtitulação: em 1928 "pelo interesse dos homens pretos – noticioso, literário e de combate"; em 1931 "independência – doutrina – verdade", e no fim de 1931, "órgão da raça negra".[2][3]

Esta segunda fase foi influenciada pela chegada de novos colaboradores e pelo contato com as lutas negras em âmbito internacional, como a experiência dos norte-americanos e os movimentos anti-colonialistas na África.[1][3] Ao longo dessa transição, segundo Renan dos Santos "a visão individualista de responsabilizar os próprios negros por sua situação de vulnerabilidade vai sendo substituída pela noção de que o Brasil possui uma 'dívida histórica' para com os negros, devido os séculos de exploração através da escravidão". Ao mesmo tempo, procurava-se recuperar e valorizar a contribuição fundamental dos negros para a construção do Brasil moderno.[1] Segundo Maria Cláudia Cardoso Ferreira, foi com O Clarim "que o caráter combativo da imprensa negra desenvolveu-se e acentuou-se".[2] Para Vinícius Alves da Silva, o periódico foi "um elemento fundamental na construção de uma consciência política e social no meio negro".[5]

Seus artigos passam então a abranger uma diversidade de temas, incluindo a identificação das origens das dificuldades que os negros experimentavam, a denúncia e combate do racismo, a articulação de uma solidariedade de grupo baseada na identidade étnica, o resgate da história e da dignidade, a promoção da resistência cultural e da conscientização política, formação de lideranças, biografias de abolicionistas ou negros notáveis apresentados como exemplos, criação de símbolos da negritude e de uma imagem positiva do negro, e reivindicações pela igualdade de direitos, pela inserção na sociedade, pela educação e pela conquista de uma melhor qualidade de vida.[1][2][3][4] Esses conteúdos eram trabalhados de diversas maneiras, como artigos e ensaios, poesia, crônicas, sátiras, etc.[1] Entre seus colaboradores estavam Benedicto Ribeiro, Myses Cintra, Cyro Costa, Gervásio de Morais, Luís Barbosa, Deocleciano Nascimento e Horácio da Cunha.[3] O Clarim também dava espaço para a divulgação de eventos sociais, culturais e esportivos voltados ao negro, e noticiava a atividade de associações negras.[2]

O jornal não tinha uma base financeira muito sólida e dependia de contribuições voluntárias, mas pôde ser distribuído gratuitamente em várias cidades, atingindo uma tiragem média de dois mil exemplares.[4] O Clarim foi publicado até 13 de maio de 1932, quando, em virtude de disputas com a Frente Negra Brasileira, foi empastelado por membros da Frente e descontinuado. Foi reativado em 28 de setembro de 1940, mas depois de publicar um único número, deixou de circular.[1][2]

Pela defesa dos interesses dos negros e pela sua longevidade o jornal hoje é reconhecido como o mais destacado dos veículos de comunicação do movimento negro paulista entre as décadas de 1920 e 1930.[1][2]

Referências

  1. a b c d e f g h Santos, Renan Rosa dos. "Pela integração negra: a trajetória do jornal O Clarim da Alvorada (1924-1932)". In: XXV Encontro Estadual de História da ANPUH — História, desigualdades & diferenças. São Paulo, 08-11/08/2020
  2. a b c d e f g Ferreira, Maria Cláudia Cardoso. "Pelo interesse dos Homens Pretos, Noticioso, Literário e de Combate. O jornal O Clarim d’ Alvorada no pós-abolição (1924-1932)". In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, 2011
  3. a b c d e Faria, José Manuel. "Jornal O Clarim da Alvorada: protagonismo negro em ação (1924-1932)". In: Revista de Trabalhos Acadêmicos — Campus Niterói, 2018
  4. a b c Francisco, Flávio Thales Ribeiro. "Um novo abolicionismo para a ascensão na nação da Mãe Preta: discursos sobre a fraternidade racial no jornal O Clarim da Alvorada (1924-1932)". In: Antíteses, 2017; 10 (19)
  5. Silva, Vinícius Alves da. "Por uma Geração Fervida ou onde o fervo encontra a contracultura tropicalista e o soul". In: Revista Brasileira de Estudos da Homocultura, 2019; 2 (4)

Ligações externas

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