Feminilidade

conjunto de características e atributos comportamentais associados ao gênero feminino
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Feminilidade ou feminidade é um conjunto de atributos, comportamentos e papéis geralmente associados às meninas e às mulheres. A feminilidade é constituída por ambos os fatores socialmente definidos e biologicamente-criados.[3][4][5] Isto faz com que seja distinta da definição biológica do sexo feminino,[6][7] já que machos e fêmeas podem exibir características femininas. As pessoas que apresentam uma combinação de ambas as características masculinas e femininas são consideradas andróginas e as filósofas feministas têm argumentado que a ambiguidade de gênero pode obscurecer a classificação de gênero.[8][9] As conceituações modernas de feminilidade também não confiam apenas em construções sociais, mas nas escolhas individuais feitas pelas mulheres.[10]

O Nascimento de Vênus (1486, Uffizi) é uma representação clássica da feminilidade pintada por Sandro Botticelli.[1][2] Vênus (Afrodite dos gregos) era a deusa romana associada ao amor e fertilidade.

Os traços tradicionalmente citados como femininos incluem gentileza, empatia e sensibilidade,[11][12][13] embora traços associados com a feminilidade variem dependendo da localização e do contexto e sejam influenciados por uma variedade de fatores sociais e culturais.[14]

História

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Tara Williams sugeriu que as noções modernas de feminilidade na sociedade falante de Inglês começou durante o período medieval inglês no momento da peste bubônica em 1300.[15] As mulheres no início da Idade Média foram referidas simplesmente dentro de seus papéis tradicionais de solteira, esposa ou viúva.[15]:4 Depois que a Peste Negra na Inglaterra dizimou cerca de metade da população, os papéis tradicionais de esposa e mãe mudaram e novas oportunidades surgiram para as mulheres na sociedade. Prudence Allen traçou como o conceito de "mulher" mudou durante este período.[16]

Em 1949, a intelectual francesa Simone de Beauvoir escreveu que "nenhum destino biológico, psicológico ou econômico determina o valor que a fêmea humana apresenta na sociedade" e "não se nasce, mas se torna, uma mulher",[17] uma ideia que foi pego em 1959 pelo sociólogo canadense-americano Erving Goffman[18] e em 1990 pela filósofa americana Judith Butler,[19] que teorizaram então que género não é fixo ou inerente, mas sim um conjunto socialmente definido de práticas e traços que, ao longo do tempo, se tornam rótulos de feminino ou masculino.[20] Goffman argumentou que as mulheres são socializadas para se apresentarem como "preciosas, ornamentais e frágeis, sem instrução e mal adaptadas para qualquer coisa que exija esforço muscular" e projetar "timidez, reserva e uma exibição de fragilidade, medo e incompetência."[21]

Feministas da segunda onda, influenciadas por Beauvoir, acreditam que, apesar das diferenças biológicas inatas entre homens e mulheres, os conceitos de feminilidade e masculinidade foram construídos culturalmente, com características como passividade e ternura atribuídos às mulheres e agressividade e inteligência atribuídos aos homens.[22][23] As meninas, segundo elas, foram então socializadas com brinquedos, jogos, programas de televisão e ensino na escola em conformidade com valores e comportamentos femininos.[22] Em sua livro de 1963 The Feminine Mystique, a feminista americana Betty Friedan escreveu que a chave para a subjugação das mulheres reside na construção social da feminilidade como infantil, passiva e dependente[24] e pediu uma "reformulação drástica da imagem cultural de feminilidade".[25]

Comportamento e personalidade

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"Mulheres são mulheres, sempre: duas garotas do exército com espelho e pente no Neguev." Legenda original da foto, tirada pelo exército israelense na Guerra dos Seis Dias.

Enquanto as características que definem a feminilidade não são universalmente idênticas, existem alguns padrões: bondade, empatia, sensibilidade, carinho, doçura, compaixão, tolerância, nutrição, deferência e carência são traços que tradicionalmente têm sido citados como femininos.[11][12][13][26][27]

A feminilidade é por vezes ligada a objetificação sexual e apelo sexual.[28][29] A passividade sexual, ou receptividade sexual, às vezes são consideradas traços femininos, enquanto a assertividade sexual e o desejo sexual às vezes são considerados masculinos.[29]

A dicotomia sexo/gênero de Ann Oakley teve uma considerável influência sobre os sociólogos ao definirem comportamento masculino e feminino na forma regulamentada, policiada e reproduzida na nossa sociedade, bem como as estruturas de poder relacionadas com os conceitos. Alguns teóricos queer e outros pós-modernistas, porém, rejeitaram a dicotomia sexo (biologia) / gênero (cultura) como uma "simplificação perigosa".[5]

O debate sobre a influência da socialização e dos fatores inatos na formação da identidade de gênero e do comportamento de gênero tem sido uma questão central na psicologia e em disciplinas correlatas. Essa discussão busca entender até que ponto as características de gênero são moldadas pelo ambiente social e cultural em que uma pessoa vive, em comparação com predisposições biológicas que podem estar presentes desde o nascimento. Diane F. Halpern aponta que tanto os fatores sociais quanto os biológicos têm um papel significativo, mas a proporção e a interação entre eles ainda necessitam de uma investigação mais profunda para serem plenamente compreendidas. A questão de ser algo inato ou adquirido continua a gerar debates acalorados e é frequentemente alimentada por novos achados científicos que desafiam ou confirmam antigas teorias. Por exemplo, estudos que exploram o impacto de hormônios e predisposições genéticas na formação do comportamento de gênero contribuem para a visão de que os elementos inatos têm peso. Por outro lado, pesquisas que enfocam a influência da educação, das normas sociais e da cultura mostram como a socialização molda as percepções e expressões de gênero ao longo da vida.[3][30][31]

Em 1959, pesquisadores como John Money e Anke Erhardt propuseram a teoria hormonal pré-natal. A pesquisa afirma que os órgãos sexuais banham o embrião com hormônios no útero, resultando no nascimento de um indivíduo com um cérebro distintamente macho ou um cérebro feminino; isto foi sugerido por alguns para "prever o desenvolvimento comportamental futuro em uma direção masculina ou feminina".[3] Esta teoria, no entanto, tem sido criticada por razões teóricas e empíricas e permanece controversa.[32][33] Em 2005, uma investigação científica sobre sexo e psicologia mostrou que as expectativas de gênero e a ameaça do estereótipo afetam o comportamento e a identidade de gênero de uma pessoa já aos três anos de idade.[34] Money também argumentou que a identidade de gênero é formada durante a infância nos três primeiros anos.[30]

Mary Vetterling-Braggin argumenta que todas as características associadas com a feminilidade surgiram a partir de encontros sexuais humanos primitivos forçados principalmente pelos indivíduos do sexo masculino.[11] Outros, como Carole Pateman, Ria Kloppenborg e Wouter J. Hanegraaff, argumentam que a definição de feminilidade é o resultado de como as mulheres devem se comportar de forma a manter um sistema social patriarcal.[28][35]

Em seu livro Masculinity and Femininity: the Taboo Dimension of National Cultures psicólogo e pesquisador holandês Geert Hofstede escreveu que apenas comportamentos diretamente relacionados com a procriação podem, em rigor, serem descritos como femininos ou masculinos, e ainda todas as sociedades em todo o mundo reconhece muitos comportamentos adicionais como mais adequados para mulheres do que para homens e vice-versa. Ele descreve isso como escolhas relativamente arbitrárias mediadas por normas e tradições culturais, identificando "masculinidade contra feminilidade" como uma das cinco dimensões básicas em sua Teoria das dimensões culturais. Hofstede descreve comportamentos femininos, como "servir", "permissividade" e "benevolência", e descreve como femininos os países que salientam a igualdade, a solidariedade, a qualidade do trabalho da vida e a resolução de conflitos por compromisso e negociação.[36][37]

Na escola da psicologia analítica de Carl Jung, a anima e o animus são os dois arquétipos antropomórficos primários da mente inconsciente. A anima e o animus são descritos por Jung como elementos de sua teoria do inconsciente coletivo, um domínio do inconsciente que transcende a psique pessoal. No inconsciente do homem, se encontra a sua expressão como personalidade feminina interior, a anima; equivalentemente, no inconsciente do sexo feminino, que é expressa como uma personalidade masculino interior é o animus.[38]

Vestuário e aparência

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Nas culturas ocidentais, o ideal de aparência feminina inclui tradicionalmente, cabelo longo e esvoaçante, a pele clara e uma cintura estreita e os pouco ou nenhum pelo corporal ou facial.[6][39][40] Em outras culturas, no entanto, as expectativas são diferentes. Por exemplo, em muitas partes do mundo, os pêlos das axilas não são considerados pouco feminino.[41] Hoje, a cor rosa está fortemente associada à feminilidade, enquanto no início de 1900 a cor rosa era associada a meninos e o azul às meninas.[42]

Estes ideais femininos de beleza têm sido criticados por feministas e outros como sendo restritivos, insalubres e até mesmo racistas.[40][43] Em particular, a prevalência de aneroxia e outros distúrbios alimentares nos países ocidentais tem sido frequentemente atribuídos ao ideal feminino moderno da magreza.[44]

Em muitos países muçulmanos, as mulheres são obrigadas a cobrir suas cabeças com um hijab (véu), considerado um símbolo de modéstia feminina e moralidade.[45][46]

Na história

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Os padrões culturais variam muito sobre o que é considerado feminino. Por exemplo, no século XVI, na França, saltos altos foram considerados um tipo distintamente masculino de sapato, embora sejam atualmente considerados como femininos.[47][48]

No Egito Antigo, as vestes ajustadas e rendadas com pedraria eram consideradas como roupas femininas, enquanto vestes apenas envolvendo o corpo, perfumes, cosméticos e joias elaboradas eram usadas tanto por homens quanto por mulheres. Na antiga Pérsia, as roupas eram na Roma antiga usavam a palla, um manto retangular e o maphorion.[49]

Modificação corporal e superficial

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 Ver artigo principal: Modificação corporal

A modificação corporal é a alteração deliberada do corpo humano para fins de estética ou não-médico.[50]

Durante séculos na China Imperial, os pés pequenos eram considerados uma característica aristocrática em mulheres. A prática das ligaduras se destinava a melhorar esta característica, embora tornasse o caminhar difícil e doloroso.[51][52]

Em algumas partes da África e Ásia, os anéis de pescoço são usados para alongar o pescoço. Nessas culturas, um pescoço longo caracteriza a beleza feminina.[53] O Padaung da Birmânia e mulheres tutsis do Burundi, por exemplo, praticam esta forma de modificação do corpo.[54][55]

Visões acadêmicas

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Para entender o termo ideal feminino, precisamos entender o que a feminilidade é. "Ela encarna uma constelação de significados, que geralmente se referem aos atributos, comportamentos, interesses, maneirismos, aparências, funções e expectativas que temos associados ao sexo feminino durante o processo de socialização, a socialização do papel de gênero depende de modelagem e reforço - as meninas são e as mulheres aprendem e internalizam traços e comportamentos femininos socialmente esperados e aceitáveis e são recompensadas por comportamentos de gênero adequado."[56] A publicação The Psychology of Women Quarterly também menciona que há inúmeros problemas psicológicos relacionados com a feminilidade entre as mulheres e as adolescentes. A construção social da feminilidade tem efeitos adversos sobre as mulheres. O que está faltando na pesquisa atual de feminilidade é "uma ferramenta que permita a compreensão das experiências da feminilidade subjetiva das mulheres e avaliem suas relações com a saúde psicológica das mulheres".[56] O que mais tarde foi desenvolvido foi a Escala de estresse subjetivo da Feminilidade (SFSS), uma escala que mede as experiências das mulheres de ser mulher e avalia os níveis de estresse que podem sentir associado com suas experiências femininas. Sabemos também que "as normas femininas da cultura dominante são insidiosamente potentes e capilares e são susceptíveis de influenciar a cada mulher que vive na sociedade americana [...] a evidência empírica sugere que os estudos atuais sobre a feminilidade (ou seja, traços, normas papel, estresse do papel de gênero) podem não conseguir captar as experiências de mulheres de diversas origens".[56]

O feminino ideal tem sido debatido durante séculos. Virginia Woolf escreve: "As mulheres têm servido todos esses séculos como uma lente que possui o poder mágico e delicioso de refletir a figura do homem com o dobro do seu tamanho natural".[57] Em janeiro de 1931, Woolf escreveu um texto que foi lido para a Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres, convidada para falar sobre as suas experiências profissionais, a escritora discorreu sobre o "Anjo do Lar", uma sombra que, segundo ela, havia em todas as mulheres. Woolf a descreve como o "Anjo do Lar": "Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os dias. Se o almoço era frango, ela ficava com o pé; se havia ar encanado, era ali que ia se sentar – em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo – nem preciso dizer – ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza – enrubescer era seu grande encanto. Naqueles dias – os últimos da Rainha Vitória – toda casa tinha seu Anjo".[58][59]

Ver também

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Referências

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