Uananas
Os Uananas ou Wanana (Guananas, na Colômbia; Cotiria, na autodenominação) são um grupo indígena que habita o Noroeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente a Área Indígena Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I e Yauareté I - onde hoje se situa o município de São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia,[1] país que também possui populações desta etnia.
Dentre os povos vizinhos dos uanana estão os baníuas,[2] tariana, tucanos e baré.[1]
Denominações
[editar | editar código-fonte]Em português são chamados uananas ou uananos, wanâna; em espanhol são os guanamas ou guanamos; os tucanos os chamam de de ocoticana, os cubeos de ocodisua e os tarianas de panumapa; já entre si eles se chamam cotiria, cótedia ou cótiria.[3]
Histórico
[editar | editar código-fonte]Os uananas foram deslocados de seu habitat original no alto Querari pelos cubeuas; há alguns séculos ocupam com suas malocas áreas em Iutica e em Caruru, uma cachoeira às margens do rio Uaupés.[4]
A presença portuguesa teve início em 1730, quando soldados foram enviados à região com o fim de definir as fronteiras; até 1750 escravizaram ali cerca de vinte mil indígenas e até 1800 estabeleceram uma base militar na foz do Uaupés no rio Negro com incursões para a captura de nativos para trabalho na roça e para assegurar as fronteiras e, em 1782 e no ano seguinte muitos deles fugiram daqueles assentamentos.[3]
Com apoio governamental na segunda metade do século XIX frades franciscanos estabeleceram uma missão em Taracuá e em Ipanoré, onde passaram a ridicularizar os pajés, expuseram às mulheres as flautas sagradas e outras ações que fizeram os nativos se revoltarem em 1888 e os expulsarem, retomando as antigas moradas.[3]
Também os comerciantes infligiam aos nativos a escravidão por dívidas, levavam suas mulheres e filhos como pagamentos; em 1914 Pio X designou os salesianos para a região, após o fracasso dos franciscanos, e eles se estabeleceram em 1929, a cerca de 60 km do território uanana, estabelecendo internatos e sendo intolerantes com a cultura e a língua dos povos locais - em ações que só findaram quando, em 1987, o governo cortou-lhes as verbas; no começo do século XX o cultivo da borracha proporcionou algum rendimento aos habitantes.[3]
O território indígena do Alto Rio Negro foi demarcado em 1996.[3]
População
[editar | editar código-fonte]No Brasil este povo contaria com cerca de 500 indivíduos, morando em aldeias com 30 a 160 habitantes e separadas entre si entre 3 a 24 km, em dez assentamentos; já na Colômbia a população seria o triplo da brasileira, o que daria um total de 1500 a 1600 uananas.[3]
Cultura e costumes
[editar | editar código-fonte]Os Uananas realizam a dança chamada Acangatara, coletiva, em que os homens e cunhãs enlaçados, todos juntos formam uma serpentina humana que gira ritmadamente.[5]
Para eles as mulheres são seres inferiores, e devem trabalhar, mesmo em adiantado estado de gravidez.[4]
Hoje estima-se que 5% da população seja alfabetizada em seu próprio idioma e de 25 a 50% em português.[3] A língua que falam é o tucano oriental, com variantes dialetais entre os que moram rio acima dos de rio abaixo.[3] Com o advento das estradas e o comércio as tradições e costumes estão sendo perdidos.[3]
Lenda dos Taria
[editar | editar código-fonte]Fruto do trabalho de pesquisa do conde italiano Ermanno Stradelli, no final do século XIX, tem-se o relato da lenda dos Taria, um povo que travara guerra contra os Arara, que eram aliados do Uananas; estes, procurando vingar-se, atacaram a aldeia do chefe Bopé que, para se proteger, erguera paliçadas e acabaram dizimando a todos os guerreiros uananas, menos um; este, refugiando-se na mata, havia criado uma anta e, voltando para casa, caiu de fome - mas a seu pedido a anta passou a lhe trazer beijus; as mulheres, preocupadas com a demora dos maridos, viram o animal e resolveram segui-lo até encontrarem o guerreiro remanescente, que lhes contou o ocorrido.[6]
As mulheres uananas então resolveram se vingar dos Taria e seu chefe Bopé; as mulheres de outras tribos se uniram a elas, e levaram seus maridos - mas havia espiões entre eles, e o chefe inimigo as esperou com armadilhas; novamente foram dizimados e os poucos sobreviventes refugiaram-se nas matas.[6]
Choques com a cultura branca
[editar | editar código-fonte]Já no começo do século XX eram relatados casos de comerciantes, sobretudo colombianos, que introduziam e comercializavam aguardente entre os uanana; interesses entre brasileiros e colombianos poderiam se unir para a exploração dos índios e relatórios instavam para a adoção de medidas protetivas.[7]
Em 2013 a Polícia Federal deflagrou a Operação Cunhatã, com o fim de coibir a exploração sexual infantil de meninas indígenas de várias etnias em São Gabriel da Cacheoeira, dentre as quais meninas uanana - uma situação que vinha sendo denunciada por entidades católicas desde 1984 por uma missionária italiana, que teve de ser retirada do lugar para sua proteção.[1]
Referências
- ↑ a b c Folhapress (22 de maio de 2013). «PF prende nove acusados de explorar sexualmente meninas índias no Amazonas». Gazeta do Povo. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Audrin Moura de Figueiredo (2010). «O índio como metáfora». História, Historiadores, Historiografia. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g h i David J. Phillips (2014). «Wanano - Kotiria». Índios do Brasil. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ a b José de Lima Figueiredo, Cândido Mariano da Silva Rondon (1939). Índios do Brasil (coleção Brasiliana). [S.l.]: Companhia Editoria Nacional. p. 146 e seg. (capítulo "Os uananas"). 348 páginas
- ↑ Mário de Andrade (1989). Dicionário musical brasileiro. [S.l.]: Ministério da Cultura. p. Página 7
- ↑ a b Oswaldo M. Ravagnani (1993). «Lenda dos Taria (tradução)». Perspectivas: Revista de Ciências. Consultado em 26 de março de 2016
- ↑ Fernando Sergio Dumas dos Santos (Dezembro 2007). «O povo das águas pretas: o caboclo amazônico do rio Negro». Hist. cienc. saúde - Manguinhos vol.14. Consultado em 26 de março de 2016